Dança: Abordagem cultural e prática
Tais aspectos revelam a resistência que acabamos desenvolvendo em relação a vivenciar a dança como expressão da arte e movimento. Eco adverte no seu artigo:
(...) a música de consumo é um produto industrial que não mira a nenhuma intenção de arte, e
sim à satisfação das demandas do mercado. Podemos acrescentar que as danças da mídia também não possuem nenhuma intenção de arte, visando apenas às demandas de mercado (ECO, apud SBORQUIA e GALLARDO, 2002, p.112).
Existe um aspecto ideológico ao não considerarmos importante a própria experiência com a dança, a descoberta de outros movimentos e até mesmo de novas possibilidades de cada pessoa, sem que esses movimentos estejam vinculados às coreografias intensamente divulgadas pela mídia.
Essa é a lógica da indústria cultural que trata a dança como produto a ser vendido, a qual depende das demandas do mercado e deixa de considerar a produção histórica e cultural das mais variadas formas de dança. Será possível romper com essa lógica de massificação do movimento?
Se considerarmos nossa própria experiência como forma de expressão e reflexão crítica da repetição gestual, esta poderá ser uma maneira para romper com essa lógica?
Essa idéia não se refere às danças folclóricas, que visam explorar e preservar as manifestações culturais, transmitidas pelas diferentes gerações e que mantêm as tradições - elemento fundamental no reconhecimento dos saberes populares.
A dança, na perspectiva escolar, não objetiva o rendimento técnico, a execução perfeita do gesto, mas deve ser vista como elemento que contribui para a reflexão e a crítica. Isto não significa ser contrário ao ensino da técnica ou tão pouco negá-la, não a ensinando. É importante a aprendizagem das mais variadas possibilidades de movimentos e esses também podem ser aprendidos por meio das técnicas. Mas também é preciso “ler”, analisar, comentar e criticar as mensagens simbólicas, os significados que estão impregnados e permeiam os aspectos da dança.
Ao analisarmos, refletirmos, observarmos e discutirmos sobre os sentidos e significados, tanto positivos quanto negativos, estaremos vendo de diferentes ângulos as questões da dança. Esses são dados importantes que servem de referências, os quais contribuirão para reelaborarmos o nosso próprio conhecimento e as nossas crenças, enfim compreendermos por meio da dança a realidade social da qual fazemos parte.
Portanto, ao percebermos a dança dessa forma, confrontando as tradições históricas com as formas atuais de movimentos, vivenciamos uma prática corporal que nos permite dar um sentido próprio às coreografias.
E aí, será que já é possível respondermos: por que dançamos pouco?
Há outro aspecto, vinculado à idéia de que “dançar é coisa de mulher”. Quais são os elementos que nos levariam a pensar assim?
Cultural, social e historicamente, incorporamos e assumimos determinados comportamentos tidos como comuns e naturais. Dependendo do meio cultural, entende-se que para o homem não “combina” dançar, porque a dança é também uma forma de expressão de sentimentos e demonstrar afetos e emoções não cabe ao universo masculino. Entretanto, o contrário também é verdadeiro para algumas culturas, pois os homens dançam, e isso representa uma forma de manifestação significativa e relevante para eles.
Procurando exemplificar essa questão, destacamos que muitas famílias estimulam os seus filhos a práticas físicas com características mais voltadas à menina ou ao menino. Desde pequena, a menina é estimulada a dançar ou a outra prática física que envolva a música, o ritmo, como: o balé, a ginástica rítmica desportiva, a ginástica artística e outras. E o menino é incentivado a praticar esportes, em geral com bola ou lutas.